A argila em Arteterapia

A Argila

A argila é neutra, maleável, plástica e antiga. Ela é o material primitivo da criação.

Através das experiências com o tato, a argila pode ativar um largo espectro das funções cerebrais; percepção de si mesmo através do toque, percepção de si mesmo no espaço, emoção, sentimento, percepção, cognição e entendimento simbólico. Nos conecta a arquétipos, a nossa história pessoal e ao nosso aprendizado social. Nos conecta a memórias do corpo também. O contato com a argila produz sinestesia, a experiência de sentido primário – neste caso, o toque – como fonte de todos os sentidos: cheiro, toque, audição, visão e degustação.

Através do toque na argila, tocamos em nós mesmos. A argila reflete. Ela dá retorno efetivo para todos os impulsos do contato. E este retorno é absolutamente neutro. A argila não comenta, não julga, não ri, nem menospreza ou ridiculariza. Ela está simplesmente ali. Então toda percepção que acontece através do toque na argila é apenas a própria percepção. Ela convida a um processo através do qual eu posso achar, entender e reconhecer a mim mesmo. Não somente posso moldar algo com ela como ela também pode me ajudar a moldar eu mesmo. Ela me conecta com o meu eu profundo e imutável.

As mãos e a Argila

As mãos são muito mais que um mecanismo para pegar coisas, elas são um órgão altamente sensível de toque. Sua capacidade de fazer gestos e movimentos faz dela um importante elemento de comunicação interpessoal. Ela atua como um meio de expressão para a mente humana.

Para explorar o desconhecido e achar um novo caminho é preciso confiar nas mãos e seguir o seu impulso, pois suas mãos sabem o caminho.

O toque

O toque é o principal sentido para a orientação, ele nos dá uma informação concreta e confiável e no trabalho com a argila nos conecta com memórias antigas guardadas no corpo e na mente. É um sentido íntimo, próximo e direto. Nossa infância é dominada pelo toque, nosso mais novo sentido de identidade deriva do toque. O toque terá sempre um impacto no meu corpo e portanto na minha mente.
O toque sincroniza ritmos do corpo, temperatura do corpo e emoções, entre mãe e filho, entre membros da família e amantes.

Todo movimento das mãos na argila deixarão uma impressão. A argila é como um espelho maleável, ela reflete cada ação das mãos. Trabalhar com a argila inicia uma intensa experiência tátil, pode nos ligar ao modo primordial de comunicação, próprio do estágio pré-verbal de nossas vidas. Pode nos lembrar como aprendemos a tocar o mundo, como lidamos com a vida, como adquirimos habilidades manuais e competência ou como fomos desencorajados de fazer isso. Pode nos lembrar como é se sentir amado ou machucado, também como lutar, conquistar o que é meu direito e como amar e fortalecer eu mesma. Para tudo isto, é preciso estar com as mãos relaxadas e em total contato com a argila. Precisamos estar bem presentes e envolvidos na relação com a argila.

É muito importante usar e ter cooperação entre as duas mãos.

A sensibilidade nas mãos é aumentada com a prática, e, com ela, se intensifica a expressão de nós mesmos.

A base das mãos

A base das mãos é frequentemente usada para empurrar grandes pedaços de argila para fora ou ao redor na área onde estamos trabalhando. Pode também pressionar e bater com força a argila. Estas atividades podem aliviar energia e tensão, e podem ser feitas para achar um ritmo interno. A experiência do tato será seguida por relaxamento, que diminuirá a tensão e aumentará a consciência emocional.

O polegar está ligado à base das mãos e ele é significantemente diferente na sua função em relação aos dedos. Ele é feito para executar impulsos motores que vêm da pélvis e do abdômen. O polegar tem a força que vem da base da mão. Ele pode apertar, retirar, empurrar a argila.

O centro das mãos

O centro das mãos é o lugar do coração. Para sentir o material, a mão tem que tocar na argila de forma estendida. Somente assim a parte central da mão estará em total contato com a argila. A adição de um pouco de água sempre ajuda a aumentar o contato. As ações aqui são: tocar, alisar, pressionar e acariciar o material. Esta experiência sensorial vai permitir a emergência de emoções como tristeza ou desgosto, com a argila percebida como suja, ou pode ainda ser percebido um estado de calma, de atenção focada.

Conforme a experiência aumenta, sensações internas e ritmos internos encontram coordenação. Memórias pessoais são estimuladas.

O rolar de uma bola de argila entre as duas mãos sempre busca o meio das mãos e ativa o sentimento de união, oriundo do coração. Atua também no cérebro. As ações rítmicas irão comunicar um impulso harmônico através dos nervos receptores das mãos para ambos os hemisférios do cérebro. O rolar de uma bola é um dos mais efetivos caminhos para estimular a integração de informação dos hemisférios esquerdo e direito do cérebro, para equilibrar cognição e emoção.

Espremer a argila no centro das mãos com os dedos, também ativa o coração e diminui a tensão. É também um movimento muito usado para preparar a argila antes de juntá-la ao bloco da escultura. Este movimento tira as bolhas de ar da argila, que é muito importante para assegurar a integridade da peça.

Os dedos

As pontas dos dedos em particular, produzem reflexos para a cabeça e para os sentidos. Os dedos, se nós desconsiderarmos o polegar, são fisicamente fracos em comparação com a base das mãos. Porém eles têm uma sensibilidade natural.

A ponta dos dedos pode ver, cheirar, saborear, ouvir e certamente tocar. A ponta dos dedos é capaz de trazer impressões que se combinam como uma imagem, no cérebro.
Através da ponta dos dedos a função cognitiva será colocada em atividade.

Depois que o impulso motor que vem da base das mãos diminuiu, depois que o efeito foi processado, e depois que a resposta sensorial foi explorada com o centro das mãos, a cognição vem através da ponta dos dedos. Aqui encontramos o componente simbólico para o nosso trabalho.

Um processo saudável de exercícios terapêuticos com a argila, normalmente trabalha de baixo para cima, começando da base das mãos. Movendo do impulso vital na base das mãos, via integração sensorial através das mãos espalmadas, até o insight cognitivo com a ponta dos dedos.

As pontas dos dedos também são usadas para penetrar o material, para modelar, e dar acabamento.

O alinhamento das mãos com os braços e com o corpo é também importante para a energia fluir livremente do corpo através dos braços para as mãos. Atenção para a energia não ser interrompida pelos ombros, cotovelos e pulsos.

O cotovelo, o antebraço e o pulso também podem intensificar a integração sensorial. Podem ser usados nas explorações com a argila, usando para cavar, ou se apoiar neles.

O revestimento das mãos e antebraços na argila serve para reforçar, nutrir e dar segurança a um aspecto fraco ou carente de personalidade.

As crianças adoram ter seus pés envolvidos pela argila. Estar envolvido desta maneira dá uma sensação de segurança incondicional, como o ventre para o bebê. Alguns gostam de ter a cavidade da argila preenchida com água quente. Tudo isto irá saciar necessidades do corpo, através do sentido da pele.

Mãos saudáveis são confiantes em pegar, agarrar, segurar, moldar, empurrar, bater, bater com pressão, acariciar. Quando as mãos são hiperativas ou quando não se movem, ficam paralisadas, elas não relaxam! Nestes casos a água quente sempre ajuda a acalmar. É igual a um banho quente para o corpo.

Referência:
“Trauma Healing at the Clay Field. A Sensorimotor Art Therapy Approach” by Cornelia Elbrecht.