Você já reparou como são luminosas as imagens representadas na arte sacra? Presente em vitrais e pinturas, mas também sugerida na escultura, a luz intensa expressa bem a força e o caráter benigno que queremos perceber nas figurações religiosas. A visão do sagrado depende da fé de cada um, mas há certas forças em nossa mente que, movidas por estímulos estéticos, evocam a experiência espiritual em nosso íntimo.
Muitos sentimentos religiosos são gerados pela visão do sagrado e nos levam para dentro do nosso coração. Ser fiel ao coração nos faz estar no centro de nosso ser, permitindo-nos o bem estar produzido pela própria presença divina. Isso nos conduz naturalmente a uma atitude amorosa em relação a cada criatura e à Natureza, o que nos leva em direção a Deus. Encontramos Deus vivendo nossa vida com dignidade e consciência, respeitando nossos sentimentos e expressando-os com liberdade.
A luz simboliza a vida, a pureza da própria Natureza. Ela se manifesta na arte sacra como expressão da fé no divino. Imagens cheias de luz elevam nosso espírito, que se lança em busca de um sentido verdadeiro para a nossa vida. A presença da luz numa obra que retrata o sagrado dá a ela uma dimensão transcendental. Um artista habilidoso no trato com a luz consegue transmitir muita força espiritual. Veja, por exemplo, a força expressiva dessa madona em vitral, presente na Igreja dos Jerônimos, em Lisboa (Belém).
Um outro exemplo de maestria no uso da luz, agora na pintura, é o italiano Tiziano Vecellio (1489-1576), renascentista veneziano que plasmou no óleo muitas cenas do credo cristão. O quadro que reproduzimos aqui está na cidade de Nápolis, Igreja de São Domingos Maior, e se chama “Anunciação”, tendo sido pintado por volta de 1557. Repare como ele utiliza a luz que surge do Céu, rasgando as nuvens, como que desejando abrir o espírito para uma tomada de consciência. A luz, que surge elevada ao centro do quadro é corporificada pelo Espírito Santo, e ilumina a Virgem, símbolo maior da consciência do coração dentro da iconografia Cristã. O resultado é de um esplendor tocante.
Além do aspecto emblemático da luz, enquanto elemento simbólico, ela também desempenha a tarefa importantíssima de guiar o olhar para o ponto mais significativo da peça – a própria figura da Virgem. O momento é solene e sagrado, quando o mensageiro divino anuncia para Maria o seu papel de Mãe Divina. A consciência da importância desse momento, que ela demonstra com seu gesto, que expressa humildade e aceitação perante a vontade de Deus, é transportada diretamente para a alma de quem, tocado pela fé, vê essa obra.
Mesmo sem ser um artista plástico, você também pode trazer um pouco mais de luz para sua vida, transformando-a numa verdadeira obra de arte sacra. Basta abrir bem seus olhos para o que é verdadeiro e benigno, e dar as costas às trevas dos falsos sentimentos, que tentam ocultar a luz de sua vida. E lembre-se sempre que a verdadeira luz vem diretamente do seu coração, e ilumina o mundo com palavras, pensamentos e atitudes.